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TIPOS DE ANEMIAS MAIS COMUNS EM EQUINOS

TIPOS DE ANEMIAS MAIS COMUNS EM EQUINOS

M.V Ricardo Prianti M.V Ricardo Prianti
21 de fevereiro de 2025

INTRODUÇÃO

A anemia é definida pela redução da massa de eritrócitos circulantes, resultante de um desequilíbrio entre a taxa de perda e/ou destruição e a produção pela medula óssea. No hemograma, é geralmente identificada pela diminuição do hematócrito ou do volume de eritrócitos. O decréscimo no valor de hemoglobina também pode ocorrer, exceto em casos de hemólise intravascular. (SELLON, 2004).

A anemia pode ser classificada com base na resposta da medula óssea à redução dos eritrócitos circulantes, sendo categorizada como regenerativa ou arregenerativa.

  • Anemia regenerativa ocorre quando a medula óssea responde à perda de eritrócitos, seja por hemorragia ou destruição acelerada (hemólise), aumentando a produção de células vermelhas.

  • Anemia arregenerativa resulta de disfunções sistêmicas ou alterações intrínsecas da medula óssea, comprometendo a eritropoiese e impedindo uma resposta adequada à diminuição ou destruição dos eritrócitos.

A anemia também pode ser caracterizada com base no tamanho dos eritrócitos, determinado pelo VCM (Volume Corpuscular Médio), e no teor de hemoglobina, avaliado pela CHCM (Concentração de Hemoglobina Corpuscular Média).

  • Anemias normocíticas normocrômicas (VCM e CHCM normais) estão frequentemente associadas a doenças crônicas sistêmicas, como insuficiência renal e hepática, distúrbios endócrinos, neoplasias e infecções prolongadas.

  • Anemias microcíticas hipocrômicas (redução do VCM e CHCM) são geralmente relacionadas à deficiência de ferro e, em algumas espécies, à anemia megaloblástica.

A anemia macrocítica (aumento do VCM) ocasionalmente ocorre em cavalos após severa crise hemolítica ou hemorrágica. (SELLON, 2004).


TIPOS DE ANEMIA

Anemia regenerativa por perda de sangue

Segundo Thrall (2012), os sinais laboratoriais desse tipo de anemia incluem um hematócrito inicialmente normal nas primeiras horas, devido à perda simultânea de células e plasma. No entanto, após algumas horas, tanto o hematócrito quanto a proteína plasmática diminuem, pois ocorre a diluição do sangue à medida que o fluido intersticial é redistribuído para a circulação. Se o sangramento for controlado, a proteína plasmática tende a retornar aos níveis normais em aproximadamente uma semana.

Condições como traumas, distúrbios de coagulação, tumores hemorrágicos e a micose da bolsa gutural são exemplos de situações que podem resultar em anemia.


Anemia por destruição eritrocitária

Em equinos, a destruição dos eritrócitos pode ocorrer tanto por hemólise intravascular quanto extravascular, sendo desencadeada por diversas causas.

  • Na hemólise intravascular, a hemoglobina liberada pela destruição das hemácias se liga à haptoglobina plasmática, uma proteína responsável por neutralizar sua ação oxidativa. Esse complexo haptoglobina-hemoglobina é então removido pelos fagócitos mononucleares teciduais.

  • Quando a haptoglobina se torna saturada, o excesso de hemoglobina livre se acumula no plasma e é eliminado pelos rins.

A administração em grande volume de soluções hipotônicas ou hipertônicas pode levar à hemólise intravascular em cavalos, embora essa condição seja rara na espécie.

As causas mais comuns de hemólise incluem doenças imunomediadas, lesões nos eritrócitos e infecções.


Anemia infecciosa equina (AIE)

Essa doença é causada por um retrovírus não oncogênico do gênero Lentivirus, que infecta os macrófagos. A infecção natural ocorre principalmente pela transmissão de sangue contaminado, facilitada pelo pastejo interrompido de artrópodes hematófagos.

Após a infecção, o vírus se multiplica nos macrófagos hospedeiros, integra-se ao genoma do animal e estabelece uma infecção persistente. Os equinos infectados podem desenvolver diferentes formas clínicas: aguda, subaguda, crônica ou permanecer como portadores inaparentes.

Na fase aguda, os sintomas incluem febre, depressão, anorexia e petéquias nas mucosas. Além disso, é comum a ocorrência de trombocitopenia, e em alguns casos, leucopenia com linfocitose e monocitose. No entanto, a anemia não está presente nesse estágio inicial.

Nas formas subaguda e crônica, cavalos infectados por mais de 30 dias podem apresentar perda de peso, edema nos membros e abdômen ventral, febre recorrente, anemia e icterícia.

Além disso, a infecção viral pode estar associada ao desenvolvimento de ataxia, aborto, cólica, além de doenças renais e hepáticas. Com a progressão da hemólise, ocorre uma redução nos níveis de hematócrito, contagem de eritrócitos e hemoglobina.


Anemia por piroplasmose

Em equinos, esse tipo de anemia é causado pela infecção por Babesia caballi ou B. equi, parasitas intracelulares que atacam os eritrócitos. Este parasita é encontrado principalmente em locais subtropicais e transmitido por carrapatos (SELLON, 2004). A piroplasmose pode ocasionar tanto hemólise intra quanto extravascular (THRALL, 2012).

Em cavalos, a doença apresenta uma fase aguda caracterizada por febre intermitente, anemia, icterícia, hepatomegalia e esplenomegalia, além de possível além de possível bilirrubinemia e hemoglobinúria nos estágios finais. No entanto, a maioria dos animais evolui para a forma crônica, que pode se manifestar em situações de estresse.


Anemia por doença hepática severa

A hemólise intravascular aguda, seguida de anemia, pode ocorrer nos estágios terminais de doença hepática aguda ou crônica. Esse quadro é caracterizado por hemoglobinemia, hemoglobinúria e icterícia. 

A destruição dos eritrócitos resulta da redução da integridade estrutural da membrana eritrocitária, causada por alterações na membrana lipoproteica e pela influência dos ácidos biliares no metabolismo dos eritrócitos durante a doença hepática. Como consequência, os eritrócitos tornam-se mais frágeis osmoticamente, levando à sua destruição. Desta forma, os eritrócitos afetados tem sua fragilidade osmótica aumentada, ocasionando sua destruição (SELLON, 2004).


CONCLUSÃO

A anemia em equinos é uma condição multifatorial que pode resultar de perda sanguínea, destruição acelerada dos eritrócitos ou falha na produção pela medula óssea. Sua classificação baseia-se tanto na resposta regenerativa da medula óssea quanto nas características morfológicas das hemácias, permitindo uma abordagem mais precisa para o diagnóstico e tratamento. A hemólise, seja ela intra ou extravascular, é um dos principais mecanismos envolvidos em anemias de origem infecciosa, imunomediada ou metabólica. Doenças como a Anemia Infecciosa Equina (AIE) e a piroplasmose destacam-se como importantes causas de anemia hemolítica em equinos, impactando diretamente a saúde e o desempenho dos animais. O entendimento das diversas formas de anemia e seus mecanismos fisiopatológicos é essencial para o diagnóstico precoce e a adoção de estratégias terapêuticas adequadas, minimizando os impactos clínicos e melhorando a qualidade de vida dos equinos acometidos.


Referências Bibliográficas

SELLON, Debra C. Disorders of the hematopoietic system. In REED, Stephen M; BAYLY, Warwick M; SELLON, Debra C. Equine Internal Medicine. 2 ed. Elsevier, Saunders 2004. cap 12. p 721-768.

THRALL Mary Anna ei al. Nonregenerative anemia. In THRALL Mary Anna et al. (Ed.) Veterinary Hematology and Clinical Chemestry. 2 ed. Ames; Wiley-Blackwell. 2012. cap 7. p 81-84.


M.V Ricardo Prianti
M.V Ricardo Prianti
Médico Veterinário, proprietário da Clínica de Equinos Prianti