INTRODUÇÃO
A artrite séptica, ou "artrite infecciosa equina", é uma condição comum e potencialmente fatal, sendo considerada uma emergência que exige atenção imediata (Morton, 2005).
Afecções do sistema musculoesquelético permanecem entre os principais desafios ortopédicos devido à complexidade de seu tratamento. Essas condições podem afetar estruturas ósseas e sinoviais, como articulações, bainhas tendíneas e bursas, ocorrendo com frequência variável e, frequentemente, demandando terapias intensivas e prolongadas (Auer & Stick, 2019; Corinne, Laurel & Kyla, 2023).
Na artrite séptica a infecção se instala no local devido a presença de bactérias, que se desenvolvem pois encontram o ambiente propício devido ao baixo fluxo sanguíneo.
Principais articulações afetadas. Fonte: EquinoVet
ANATOMIA
Existem três tipos de articulações que são classificadas conforme a sua mobilidade. Sinoartroses são as articulações imóveis, as articulações anfiartroses possuem mobilidade parcial, e por último, as articulações diartroses, mais conhecida como articulações sinoviais e totalmente móveis que fazem parte da constituição dos membros locomotores dos animais (FRISBIE, 2012).
A articulação sinovial tem como objetivo, diminuir o atrito existente entre duas cartilagens, a fim de gerar uma menor fricção dos membros, permitindo uma boa locomoção do animal. Uma vez comprometida a articulação sinovial e não tratada adequadamente pode levar o animal a apresentar quadros de osteomielite e artroses que causem a perda irreversível da superfície articular (WEEREN, 2016). Essa articulação é formada por uma cápsula fibrosa que envolve toda a articulação externamente, sendo reforçadas pelo ligamentos colaterais, uma membrana sinovial que reveste a cavidade, sendo ela composta por camadas, fluido sinovial, osso subcondral e a cartilagem articular (WEEREN, 2016)
A camada íntima da membrana sinovial é composta por quatro camadas de sinoviócitos, responsáveis por funções distintas: as células do tipo A realizam a fagocitose, enquanto as do tipo B são encarregadas da secreção de proteínas. As células B produzem as proteínas que constituem o líquido sinovial, que também inclui lubricina, colágeno, interleucinas, ácido hialurônico, metaloproteinases e eicosanoides (COSTA; GERVASIO, 2017).
ARTRITE SÉPTICA
A artrite séptica é uma enfermidade definida pela inflamação ou infecção de uma ou mais articulações nos equinos causada por microrganismos, caracterizada pelos sinais cardinais da inflamação (dor, calor, rubor, edema e perda de função).
Trata-se de uma doença degenerativa e avançada das articulações, que causa destruição acelerada da cartilagem articular, prejudicando a mobilidade e a qualidade de vida do animal. Quando há presença de osteomielite, pode haver perda irreversível da superfície articular e é uma doença que acomete potros e equinos adultos, não tendo predileção por idade, sexo e raça.
As infecções ortopédicas têm origens endógenas ou exógenas e podem envolver o osso (osteomielite) ou compartimentos sinoviais, como articulações, bainhas tendíneas e bursas.
Em animais jovens, a artrite séptica é frequentemente de origem hematógena e em cavalos adultos ela se desenvolve após uma administração intra-articular ou uma lesão traumática penetrante. A infecção pós administração intra-articular é predominantemente causada por Staphylococcus spp., enquanto as feridas penetrantes podem ter uma variedade de organismos infecciosos, incluindo o Staphylococcus e a Pseudomonas.
SINAIS CLÍNICOS
Os principais sinais clínicos encontrados na Artrite Séptica são:
Aumento de volume da articulação;
Claudicação que varia de intensidade e tipo;
Queda de desempenho;
Efusão e espessamento;
Edema, calor e dor à manipulação;
Apatia e prostração;
Derrame articular, fístulas e feridas secundárias;
Alteração na cor da pele da articulação comprometida.
Se a articulação estiver aberta, a claudicação e a dor serão muito menores. Quando a articulação é fechada, a distensão resultante da articulação gera dor à medida que a cápsula articular é “esticada”.
DIAGNÓSTICO
O diagnóstico deve ser feito através de algumas observações:
Sinais clínicos apresentados;
Exame físico completo;
Sensibilidade das articulações;
Grau e nível de claudicação;
Diagnóstico por imagem (raio-x e ultrassonografia);
Análise do líquido sinovial (artrocentese).
O exame de raio-x é realizado para identificar fragmentos ou fraturas, enquanto o líquido sinovial é coletado para análise celular e detecção de bactérias. Também é possível realizar cultura a partir do fluido articular.
Fonte: Blog.equinovet
Primeira Imagem – O líquido sinovial normal é amarelo-claro, límpido e sem debris floculentos;
Segunda Imagem – Artrite infecciosa resulta em uma amostra que varia de serofibrinosa à fibrinopurulenta;
Terceira Imagem – Articulações infectadas é sanguinolento, devido à hemorragia das membranas sinoviais;
TRATAMENTO
O tratamento para a artrite séptica deverá ser baseado nos exames diagnósticos, sendo multifatorial e tendo um único objetivo: eliminar os microrganismos causadores dessa patologia e remover os produtos deletérios da inflamação sinovial e a fibrina (que podem danificar a cartilagem articular).
Além disso, o tratamento varia conforme o grau da doença e as orientações médicas, geralmente envolvendo o uso de anti-inflamatórios e, em alguns casos, até mesmo a realização de cirurgia.
O tratamento via sistêmico é feito com antibióticos, e os mais utilizados são a penicilina associada a gentamicina; cefalosporinas; amicacina e associação de sulfa com trimetropin. A gentamicina e a amicacina são amplamente utilizadas por via intra-articular, sendo a gentamicina especialmente vantajosa por alcançar altas concentrações sinoviais com doses reduzidas.
A perfusão regional, a lavagem e drenagem da articulação e o uso de bandagem também são muito utilizados para tratamento da artrite séptica.
É importante ter cautela ao iniciar o tratamento, pois complicações podem levar a articulação a desenvolver osteoartrite ou então osteomielite resultando em um aumento significativo da claudicação e piora do quadro.
CONCLUSÃO
A artrite séptica é uma condição grave e potencialmente fatal que exige diagnóstico e tratamento rápidos para preservar a função articular e a qualidade de vida dos equinos. Afetando estruturas sinoviais e ósseas, essa enfermidade demanda abordagem multifatorial, incluindo diagnóstico por imagem, análise do líquido sinovial e tratamentos como antibióticos, lavagens articulares e, em casos graves, intervenções cirúrgicas. Apesar dos avanços terapêuticos, a rapidez na identificação e no manejo da patologia é essencial para evitar complicações, como osteoartrite ou osteomielite, que podem comprometer de forma irreversível a locomoção do animal.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Auer & Stick (2019) Equine surgery. Fifth Edition. Elsevier/Saunders.
Corinne, Laurel & Kyla (2023) ‘Current Treatment and Prevention of Orthopaedic Infections in The Horse’, Equine Veterinary Education. John Wiley and Sons Inc, pp. 437–448.
Hinchcliff, Kaneps & Geor (2014) Equine Sports Medicine and Surgery. Toronto.
Ludwig & Harreveld (2018) ‘Equine Wounds over Synovial Structures’, Veterinary Clinics of North America - Equine Practice. W.B. Saunders, pp. 575–590. Available at: https://doi.org/10.1016/j.cveq.2018.07.002.
Morton (2005) ‘Diagnosis and Treatment of Septic Arthritis’, Veterinary Clinics of North America - Equine Practice, pp. 627–649.
Southwood & Wilkins (2015) Equine Emergency and Critical Care Medicine.
Ross & Dyson (2011) Diagnosis and Management of Lameness in the Horse. Secound Edition, Elsevier Inc.
M.V Ricardo Prianti